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As minhas janeiras

Queria que o Ano Novo cheirasse a morangos.
E que fosse macio como as nuvens.
E que fosse quentinho como o entardecer de junho.

Queria que o Ano Novo fosse sereno e ternurento.
Queria que me matasse a sede de calmaria.
Queria que fosse um caminho largo e reto, sem curvas.

Queria que o Ano Novo soubesse a mar, salpicado a flor de sal.
Queria que me matasse a fome de vida.
E que me lavasse as mágoas, cruas.

Queria que o Ano Novo fosse recém-nascido.
E que viesse apenas com a Graça que Deus lhe deu. 
E que trouxesse duas estrelas do Céu. 
Todos os recém nascidos trazem duas estrelas, uma em cada olho pestanudo. Uma ilumina o dia e a outra ilumina a noite. É o bastante.

Queria que o Ano Novo fosse uma cama de rede. 
Onde o nanar tem um efeito reparador.
E a alma descansa, serena.

Queria que o Ano Novo fosse um copo de pé alto.
Com dois dedos de bom vinho tinto.
Saboreado calma e intensamente, na melhor das companhias. 

Queria que o Ano Novo tivesse a pureza e a liberdade de uma papoila.
E queria que fosse um campo selvagem e aberto, a perder de vista.

Queria que o Ano Novo fosse tudo isto.
Só para variar.

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