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Mensagens

A mostrar mensagens de outubro, 2015

Diferenças, tolerâncias e arrumações

Hoje é dia de balanço, é sexta-feira. Há umas sextas-feiras que são mais propensas a estas coisas de refletir um bocadinho sobre tudo e sobre nada. Hoje apetece-me juntar por aqui alguns pensamentos que fui tendo durante a semana, a propósito de qualquer situação ou acontecimento.  Esta semana estive muitas horas em ambiente de aprendizagem com um grupo de pessoas de outros países. Todos dentro da mesma área de especialização. Grupo homogéneo pela formação e heterogéneo pelas raízes e contexto cultural. Uma miscelânea interessantíssima de pessoas com histórias de vida completamente diferentes. Eu adoro ambientes misturados e cheios de diferenças culturais!  A parte mais interessante desta mistura intencional tem a ver com o facto de todos terem que se entender, havendo objetivos individuais que concorrem para um objetivo em comum. De repente, damos por nós a trabalhar com pessoas que conhecemos naquele momento, sem quaisquer referências anteriores. E temos, obrigatoriamente,

Uma estrelinha perdida

Quando uma estrelinha se sente perdida no seu caminho…o que fazer?  Quando uma estrela se sente perdida, é sempre um bocadinho de vida difícil (para a estrela, claro). Quando uma estrela se sente perdida na noite, que é a sua casa, a sua dor e a sua solidão são muito fortes. É suposto a estrela iluminar o caminho dos outros e saber sempre para onde ir. Ter a resposta para tudo e as certezas na ponta dos seus raios. Quando uma estrelinha vê a sua vidinha virada do avesso é sempre mais difícil de endireitar do que seria se não fosse uma estrelinha. É que quanto mais luz própria se tem, maiores são as dores quando não se sabe para que lado brilhar. Uma estrela brilhante normalmente rasga o seu caminho a toque de raio de luz, com a certeza da rota. Constrói a sua própria constelação no pedaço de céu que conquistou com o poder do seu brilho. E lá permanece a brilhar, a influenciar astrológicamente a vidinha dos que nasceram sob a graça da sua constelação e a vida corre, com a segu

Amor é...

De tantas definições, reflexões e observações que há sobre o amor, há uma que me agrada particularmente: “amor é quando um pedaço de nós já não nos pertence”. E é mesmo verdade. É como se uma parte do nosso coração andasse fora do nosso peito. Andasse por aí sem nós sabermos onde nem como. Isto acontece no amor de todas as formas. No amor pelas nossas crias, pelos nossos amigos, mas, particularmente, por quem nos apaixonamos. Há uma parte de nós que deixa de nos pertencer, que passa a pertencer ao outro que amamos. E sobre essa parte não temos qualquer influência ou controlo. Pois se não nos pertence…e isto não é fácil de gerir. Pois se algo que nos é tão querido anda por aí fora, tudo pode acontecer. Não sabemos se está bem ou mal, se está feliz, se está a ser bem tratado e cuidado, se é desprezado ou magoado. Enfim….Saber, saber, não sabemos nada. Apenas sentimos. E é este sentir que torna o amor tão especial e precioso. Este coração que passa a bater fora do nosso peito, lá vai

No meu avesso

No meu avesso há uma dimensão que não sei definir. Não lhe consigo encontrar fronteiras para além dos contornos do meu corpo. No meu avesso encontro as costuras e as cicatrizes, âncoras dos rasgões da superfície. Tatuagens e brasões, marcas de vida. No meu avesso há um universo quase infinito, onde não sei onde começa nem onde acaba. Onde tudo flutua ou gravita sem ordem definida, sem uma organização galáctica que os defina. No meu avesso há o reflexo de tudo o que sou, penso e sinto. É onde se guardam os registos que querem ficar registados e onde se esquecem os que não querem ser lembrados. Tudo sem a minha interferência. No meu avesso existe uma outra como eu que ainda não conheço bem, que não descobri na totalidade. Que de vez em quando me surpreende ou me intriga. No meu avesso há uma caixinha de surpresas que também não tem fundo. É labiríntica e intrincada. Pode transformar-se em quebra-cabeças ou em cubo mágico. Imprevisível, misteriosa e improvável. Por ve

Inspiração

Inspiração. Sempre me questionei de onde vinha. Quando admirava escritores, compositores, pintores, músicos e outros artistas, sempre me questionei de onde sairia a inspiração, a criatividade, a veia que se derrama. Tudo aquilo que se cria, em bem e para o bem, é admirável. As artes sempre me emocionaram nas suas várias formas e dimensões. Ninguém entende porque é que vou a um concerto e choro que nem uma Madalena arrependida. Nem porque é que me arrepio numa boa peça de teatro. Ou porque deliro com um bom livro. Emociono-me um bocadinho mais do que a maioria das outras pessoas. E raramente consigo explicar o que sinto. A forma profunda como uma boa música me toca na alma. Nunca me consigo fazer explicar. Porque é muito difícil explicarem-se os sentimentos, as emoções. Só sentindo. E cada um sente à sua maneira, de acordo com o seu coração e a sua alma.  Parece-me que a inspiração é como uma brisa que passa por nós sem sabermos de onde vem nem para onde vai. Mas sabemos o efeito q

Efeito bumerangue

Sempre que me acontece um episódio menos bom, reflito sobre como insistimos em perder tempo com coisas que não valem a pena. Que não ajudam ninguém. Que não trazem alegria. Sempre que não sou capaz de fazer as melhores escolhas para ser feliz e fazer os outros felizes à minha volta, reflito sobre o assunto. E parece-me uma perda de tempo tudo aquilo que não nos enriquece como pessoas. E um momentito de prazer pode ser suficiente para nos enriquecer. Sempre que sentimos uma gotinha de alegria, já estamos a amealhar. Não é preciso pensarmos em grandes coisas ou em grandes feitos. Bastam as coisas que nos causam alegria. O que nos dá prazer, o que nos faz feliz, o que nos dá luz e bem-estar. E não leiam estas palavras pensando que há um certo egoísmo subliminar. Não há. Acredito piamente que não conseguimos contribuir para a alegria dos outros e a sua felicidade se não formos felizes primeiro. O primeiro trabalho estará sempre em nós próprios. Sempre de dentro para fora. Se eu me sentir

Tristezas de outono

O dia hoje está sem sol. Os dias sem sol fazem parte da vida mas não são tão bonitos como os dias iluminados. Quando o sol brilha, mesmo que o nosso coração esteja triste, a alegria volta mais depressa. Hoje o dia está cinzento por fora e triste por dentro. Assim, um não consegue compensar o outro. Sempre que estou triste procuro uma fonte de alegria para poder contrariar essa tristeza. Por vezes basta-me uma boa caminhada ao ar livre para me colocar os pensamentos em ordem e o coração em sossego. Hoje não me parece que a caminhada ajude. O tempo está sisudo e choramingão. Só ajuda a somar nostalgia à tristeza. Não é que esteja com uma tristeza profunda e dilacerante, daquela que só se cura a toque de lágrima. Hoje estou com uma tristeza miudinha, daquela que mói devagarinho mas com compasso, com ritmo. Com a aparente mansidão de um dia nebulado de outono, que não anda nem para a frente nem para trás. Claro que estas tristezas miudinhas e mansas, de um momento para o outro, tal co

Absolutamente Principiante

Estou a ouvir uma canção do David Bowie, Absolute Beginners. Fala de se ser “absolutamente principiante” nas coisas do amor e em mais uma data de coisas relacionadas. Gosto muito da canção porque me lembra como é maravilhosa a pureza da descoberta. De se ser principiante seja no que for. No que diz respeito ao amor, no meu ponto de vista, somos sempre principiantes. E esse é uma das causas do seu encantamento (do amor). Amar aos 16 anos é tão encantador e forte como amar aos 50 anos. Todos os amores que temos são diferentes. Claro que entre os 16 e os 50 há experiência de vida acumulada e já sabemos mais coisas. Mas o frio na barriga é o mesmo. A maravilha é a mesma. O medo é o mesmo. O que muda de uma idade para a outra é a nossa racionalização e capacidade de lidarmos de forma diferente com o que nos acontece. Mas, na verdade, de cada vez que nos apaixonamos é sempre a primeira vez. Ficamos sempre sem jeito, com o coração na boca e com borboletas no estômago. Isto é invariável! E nã

A vida a correr

Hoje acordei um bocadinho cinzenta como o tempo. O cinzento é uma cor como as outras embora um bocadinho menos alegre. Deu-me para pensar em algumas vidas de pessoas que me rodeiam. Procuro sempre que os outros sejam um exemplo. Procuro sempre aprender ou tirar algumas ilações sobre a vida e sobre mim própria olhando o que e quem me rodeia. Hoje penso particularmente nas pessoas que correm. Correm o tempo todo a passo muito largo. Sempre a contrarrelógio, com stresse e com sofrimento. E correm como se o mundo fosse acabar em breve ou como se tudo parasse se elas pararem. E sofrem. Não descansam, dormem mal e andam sempre com o coração acelerado. E o tempo nunca lhes chega para nada. E tudo isto é uma pescadinha de rabo na boca. Quanto menos tempo têm, mais correm. Quanto mais correm, menos tempo têm e mais se desorganizam. E entram num círculo vicioso que apenas desgasta. E neste frenesim, conseguem fazer de conta que nada se passa. Conseguem não ter tempo para pensar. Por vez

A magia do outono

Ando a ver se encontro magia no outono. Sempre fui mais da primavera para o verão. Fico sempre murcha com o cair da folha. Com o vislumbre do inverno. Com o arrefecer e com o escurecer. Não sou uma pessoa do outono. O outono lembra a murchice e é dado à nostalgia, ao “que pena que acabou o verão”. E eu não gosto de ter pena. E também não gosto destas coisas mal definidas. Ou faz frio ou não faz. Esta coisa do tempo assim-assim, não me consola. Mas também sei que tudo tem a sua magia. E o outono também a terá. Este ano ando a tentar encontrá-la. Ando a tentar encontrar a beleza neste tempo cheio de caprichos. Ando a tentar não rosnar com as rabanadas de vento e com as diferentes caras que um só dia pode ter. Esta imprevisibilidade aborrece-me. Principalmente porque me impede de fazer algumas coisas que adoro, nomeadamente caminhar por sítios bonitos e iluminados pela luz do sol. Nunca sei se chego carregadinha de chuva até aos ossos. Ou em perfeito desalinho. Tudo o que me impede d

Um par de chinelinhas com corações

Hoje apetece-me escrever sobre coisas simples, como por exemplo, um par de chinelinhas de dedo. Eu adoro chinelas e adoro coisas muito simples e especiais. As minhas chinelas são muito especiais. E não é só porque são muito bonitas, cheias de corações vermelhos. Como todas as coisas simples e especiais vão muito para além do que se vê. Do que parecem ser na sua singeleza.  A verdadeira simplicidade é uma coisa bastante rara e difícil. Normalmente, parece-nos que o complexo e intrincado é que será especial de corrida. Implica muito trabalho intelectual e muita inteligência para ser decifrado. Custa muito e parece que tudo o que custa é que tem verdadeiro valor. Como eu costumo ser ao contrário, valorizo a simplicidade. A emoção, o sentimento e a espontaneidade. Tudo o que tem que ser muito pensado traz normalmente sofrimento associado. Adoro a pureza da simplicidade, adoro tudo o que de forma simples e verdadeira sai do coração. Daí que goste tanto das minhas chinelas - são cheinha

Por dentro e por fora

Às vezes não há remédio. De vez em quando assalta-me uma sensação de impotência por aquilo que não consigo mudar. Também me parece que esta sensação é pedagógica. Mas, como a maior parte das coisas que nos ensinam, também magoam. Que pena não podermos alterar fora de nós o que nos parecia ser melhor de outra forma. Também é verdade que, nesta altura do campeonato, já sei que o que não posso mudar fora, tenho que mudar dentro. E é talvez isto que doa mais. Quando ainda não sou capaz de mudar dentro. De ter uma outra atitude e aceitação sobre as coisas. Não consigo ainda e sempre, incondicionalmente, aceitar com paz o que não consigo alterar. Tento muito, procuro fazê-lo e de vez em quando até consigo. Mas não consigo sempre. Há vezes em que é muito difícil. Principalmente o que tem a ver com outras pessoas em que o respeito pela sua identidade e forma de ser tem que ser maior. Ou total. Mas quando certas pessoas são muito importantes para mim, a exigência torna-se maior.  Dizem-me qu

Entre mim e o meu silêncio

Entre mim e o meu silêncio há uma distância impossível. A distância que me obriga a calar o que tanto quereria desafogar do peito. Entre mim e o meu silêncio há um caminho intransponível. Um caminho que de tão tortuoso me obriga a elevar os passos para não ferir os pés. Entre mim e o meu silêncio há uma cumplicidade exata.  Uma cumplicidade que entende na perfeição as palavras que não digo. Os sentimentos que não falo. As emoções que calco para não chegarem à flor da minha pele. Entre mim e o meu silêncio há um mar imenso.  Só no mar encontro a paz necessária para processar a imensidão de palavras que teimam em saltar por cada poro, por cada partícula de mim. Entre mim e o meu silêncio há um jardim verde e amarelo. Um jardim meio selvagem sem grandes arranjos, organizações ou canteiros. As plantas e flores nascem por onde lhes dá. Sem nenhuma preocupação cromática. Apenas escolhem por onde querem estar. Sem nenhuma razão aparente. Mas como se sabe, toda a pla

O tempero da vida

Há dias muito bonitos. Dias em que sol começa a brilhar melhor logo pela manhã. A luz que ilumina o céu parece mais esplendorosa. Mais azul. O ar que nos enche o peito parece mais puro. A vida acorda mais bonita e cor-de-rosa.  Se calhar, não é bem a vida que acordou virada para o lado certo. Talvez sejamos nós. Talvez quando acordamos para o lado bom cá dentro do peito, a vida lá fora fica muito mais bonita embora tudo continue no mesmo lugar em que se foi deitar ontem. A nossa maneira de ver e de olhar a vida transforma-a. Muda-lhe a cor e o semblante. Muda o brilho do sol e qualidade do ar. É este o poder que encerramos no nosso peito, no nosso coração. Temos cá dentro o poder de mudar fora o que quisermos. Na verdade, tudo depende da forma como olhamos, como sentimos, como encaramos as coisas e a importância que lhes damos.  Estou muito melhor no que diz respeito ao relativizar, do olhar a vida com filtro cor-de-rosa e do dar importância ao que realmente a tem. Diz que o se